A verdade funda a fraternidade
O Papa Emérito Bento XVI, ao longo do seu breve Pontificado, legou-nos uma belíssima Carta Encíclica tratando sobre o tema do desenvolvimento humano integral a partir da ótica da caridade e da verdade. Propôs reflexões pertinentes para a contemporaneidade, apontando o necessário “casamento” entre a caridade e a verdade. Para ele, bem como para o ensino da Igreja, o legítimo desenvolvimento integral da pessoa humana passa inquestionavelmente pela adesão à verdade absoluta de Deus. Não podemos construir uma sociedade permeada pela justiça e pela fraternidade marginalizando o discurso de Deus. Ele vai construindo seu pensamento ao longo da Encíclica em torno da defesa da verdade – esta que deve ser proposta “(…) com humildade e convicção, e testemunhá-la na vida são formas exigentes e imprescindíveis de caridade” (Bento XVI; Caritas in Veritate; n. 01).
Vivemos na complexidade de sociedades que cada vez mais se globalizam, tornando-nos vizinhos de pessoas do outro lado mundo, mas o que não significa que essas relações tornam-nos irmãos. O imperativo da verdade é capaz de fundar a fraternidade, desde que nossas relações estejam imersas no concreto amor de Deus. Para aonde caminham nossos ambientes sociais tão barulhentos pelas ideologias? Por que não somos capazes de estabelecer relações justas, fraternas e duradouras? Assistimos a um completo desmonte dos valores propostos pelo Evangelho. Busca-se a todo custo tornar a religião a um ato meramente privado, amordaçando-a a “costumes retrógrados e piedosos”.
Para o Papa alemão, “a religião cristã e as outras religiões só podem dar o seu contributo para o desenvolvimento se Deus encontrar lugar também na esfera pública, nomeadamente nas dimensões cultural, social, econômica e particularmente política” (Bento XVI; Caritas in Veritate; n. 56). Não podemos admitir um convívio social que exclua a religião da esfera pública. O desenvolvimento integral do homem reclama o relacionamento com o fundamento da verdade, pois aquele também carrega dentro de si a inclinação para o Transcendente, para Deus. O progresso das relações fraternas funda-se na medida em que o social encarna a busca ordinária pela verdade.
O amor, tão necessário nas relações humanas, possui caminho estreito com a verdade e é capaz de purificar qualquer cultura, marcando-a com o compromisso de tornar a pessoa humana integrada consigo mesma e com os outros.
Por Dom Manoel Delson – Arcebispo da Paraíba