A vitória sobre o mal
Com muita frequência chegam à Igreja Católica perguntas a respeito dos Exorcismos e seu exercício na vida da Igreja. Para que os esclarecimentos sejam oferecidos com segurança, nesta ocasião consideramos importante reportar-nos a documentos oficiais, inclusive para orientar a escuta e acolhida dos textos litúrgicos oferecidos para o próximo domingo (Cf. Gn 3,9-15; Mc 3,20-35). O Catecismo da Igreja Católica nos oferece a necessária segurança, assim como o Ritual dos Exorcismos.
O ponto de partida para tal compreensão é o mistério do próprio Cristo: “Toda a vida de Cristo é mistério de redenção. A redenção nos vem, antes de tudo, pelo sangue da cruz. Mas este mistério está atuante em toda a vida de Cristo: já na sua Encarnação, pela qual, fazendo-se pobre, nos enriquece com a sua pobreza; na vida oculta que, pela sua obediência, repara a nossa insubmissão; na palavra que purifica os seus ouvintes; nas curas e expulsão dos demônios, pelas quais ‘toma sobre si as nossas enfermidades e carrega com as nossas doenças’ (Mt 8,17); na Ressurreição, pela qual nos justifica” (Catecismo da Igreja Católica, 517). Sabemos que “a vinda do Reino de Deus é a derrota do reino de Satanás: ‘Se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios, então é porque o Reino de Deus chegou até vós’ (Mt 12, 28; Cf. Mc 3,20-35). Os exorcismos de Jesus libertam os homens do poder dos demônios. E antecipam a grande vitória de Jesus sobre ‘o príncipe deste mundo’. É pela cruz de Cristo que o Reino de Deus vai ser definitivamente estabelecido: ‘Deus reinou no madeiro’” (Catecismo da Igreja Católica, 550).
A vitória de Cristo é perpetuada na ação da Igreja. “Quando ela pede publicamente e com autoridade, em nome de Jesus Cristo, que uma pessoa ou objeto seja protegido contra a ação do Maligno e subtraído ao seu domínio, fala-se de exorcismo. Jesus o praticou e é dele que a Igreja obtém o poder e encargo de exorcizar. Sob uma forma simples, faz-se o exorcismo na celebração do Batismo. O exorcismo solene, chamado ‘grande exorcismo’, só pode ser feito por um presbítero e com licença do bispo. Deve proceder-se a ele com prudência, observando estritamente as regras estabelecidas pela Igreja. O exorcismo tem por fim expulsar os demônios ou libertar do poder diabólico, e isto em virtude da autoridade espiritual que Jesus confiou à sua Igreja. Muito diferente é o caso das doenças, sobretudo psíquicas, cujo tratamento depende da ciência médica. Por isso, antes de se proceder ao exorcismo, é importante ter a certeza de que se trata de uma presença diabólica e não de uma doença” (Catecismo da Igreja Católica, 1673).
De acordo com o Ritual dos Exorcismos, o ministério de exorcizar os possessos depende de licença expressa do Bispo, a ser concedida somente a um sacerdote dotado de piedade, ciência, prudência e integridade de vida. Este, em primeiro lugar não creia facilmente que seja possesso do demônio alguém que sofra de alguma enfermidade, especialmente psíquica. Também não aceite imediatamente que haja possessão quando alguém afirma ser de modo peculiar tentado, estar desolado ou ser atormentado, porque qualquer pessoa pode ser iludida pela própria imaginação. Esteja ainda atento, para não se deixar iludir pelas artes e fraudes que o diabo utiliza para enganar, de modo a persuadir o possesso a não se submeter ao exorcismo. O exorcista consulte ainda, na medida do possível, peritos em ciência médica e psiquiátrica, que tenham a sensibilidade para as realidades espirituais (Cf. Ritual dos Exorcismos, 13-19). O rito, quando celebrado, nunca será organizado como um “espetáculo” para os presentes, excluindo, pois, qualquer presença de meios de comunicação. Concluído o exorcismo, nem o exorcista nem os presentes divulguem qualquer notícia a seu respeito.
É fundamental que se distinga entre os casos de ataque do diabo e a credulidade com que algumas pessoas pensam ser objeto de malefícios, má sorte ou maldição, que teriam sido lançados por outras pessoas, conduzidos muitas vezes até pela ignorância. Não se recuse a ajuda, orientação e oração em tais casos, mas não se recorra ao exorcismo. Também não se recuse o auxílio espiritual de algum sacerdote ou também de um diácono, utilizando preces e súplicas especiais.
Existem ainda os chamados exorcismos menores, orações que podem ser feitas pela libertação do mal, presididas por um sacerdote. Uma das súplicas constantes deste rito diz assim: “Espírito Santo Criador, assisti benignamente à Igreja Católica e fortalecei-a com vosso excelso poder contra os ataques dos inimigos, renovai no vosso amor e na vossa graça o espírito dos vossos fiéis que consagrastes, para que em vós glorifiquem o Pai e o seu Filho Unigênito, Jesus Cristo, nosso Senhor”. O sacerdote reza: “Em nome de Jesus Cristo, nosso Deus e Senhor, e pela intercessão da Imaculada Virgem Maria, Mãe de Deus, do Arcanjo São Miguel, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e de todos os Santos, confiado na autoridade que me conferem os sagrados ministérios, recebidos da Igreja, ousarei com segurança repelir os ataques da insídia diabólica”. E todos podem dizer: “Levanta-se Deus, dispersam os inimigos e fogem diante dele os que o odeiam. Como se desfaz a fumaça, assim eles se dissipam; como a cera se derreta ao fogo, assim perecem os pecadores à vista de todos. Eis a Cruz do Senhor: fugi, forças adversárias. Venceu o Leão de Judá, descendente de Davi. Desça sobre nós, Senhor, a vossa misericórdia, porque em vós nós esperamos!” E cada fiel tem ao seu alcance preces a serem utilizadas no combate contra os poderes das trevas, como a que se segue: “Deus, Pai Santo, que, pela graça da adoção filial, me tornastes filho da luz, concedei que não seja envolvido pelas trevas do demônio, mas permaneça sempre no esplendor da liberdade que recebi no renascimento batismal. Amém.”
Por Dom Alberto Taveira Corrêa – Arcebispo de Belém do Pará