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A Voz do Pastor › 15/12/2017

Homilia Parte II

Olá amigos e amigas internautas.
Sejam todos e todas bem vindos e bem vindas.

Continuando nosso assunto sobre a HOMILIA, hoje vamos analisar as RAÍZES BÍBLICAS DA HOMILIA.

Antes, porém gostaria de lembrar algo que já falei no ano passado, e que é sempre bom lembrar.

Domingo dia 02 de Dezembro 2017, começamos um novo Ano Litúrgico, com o TEMPO DO ADVENTO.

“O Tempo do Advento se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa da chegada do Senhor, no Natal” (Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário, 39). É um tempo de austeridade na liturgia, onde não existe o Canto do Glória, poucas flores…

Acontece que algumas comunidades transformam o Tempo do Advento, já no Tempo de Natal: com bolinhas de natal, festão, pisca-pisca, árvore de natal…. Estes são os arranjos do Tempo do Natal. O presépio pode ser montado, mas sem a imagem do Menino-Jesus.

Este é um recado para quem cuida do Espaço Sagrado. Muitas vezes vocês são culpados porque não deixam a comunidade perceber a passagem de um tempo litúrgico para o outro.

Não transforme a sua comunidade num Shoppingcenter, onde a decoração já é de natal.

Vamos voltar ao nosso assunto de hoje.

A origem da homilia mergulha suas raízes no povo bíblico de Israel e nas primeiras comunidades cristãs.

Aos sábados de manhã havia nas sinagogas um ofício de leituras. Tiago diz isso em Atos dos Apóstolos 15,21: “Porque Moisés tem, em cada cidade desde tempos antigos, os que pregam nas sinagogas, onde é lido todos os sábados”.

Lia-se um trecho da TORÁ, que era o livro da Lei de Moisés (os cinco primeiros livros da Bíblia). Era a leitura mais importante. Nos lugares onde o povo já não entendia o hebraico (a língua em que estava escrita a bíblia), alguém fazia em seguida o “targum”, ou seja, a tradução em aramaico ou em grego, que era a língua falada pela comunidade reunida. Era uma tradução bem livre e espontânea, muitas vezes com adaptações do texto à comunidade ouvinte.

Depois se faziam as leituras dos PROFETAS e dos escritos com seus comentários e também o salmo.

Tudo era escolhido em ligação com a leitura da Torá.

Depois havia a homilia que retomava sempre cada uma das leituras explicando uma a partir da outra e ligando-as com a realidade do momento. Mostrava que o mesmo Senhor, que estava presente na história do povo no passado, estava presente também no momento atual, hoje, para salvar e libertar o seu povo. Mostrava como a Palavra de Deus se cumpria, se realizava na história atual. Exortava e animava o povo a ficar fiel ao Deus da Aliança, a comprometer-se com ele, a confiar nele.

Usando este método aprendido na sinagoga, as primeiras comunidades cristãs mostravam na homilia que todas as Escrituras recebiam seu pleno cumprimento em Jesus Cristo.

Em Lucas 4,16-30, temos a primeira homilia cristã, na qual o próprio Jesus é o pregador e o protagonista. Há um claro comentário do texto de Isaías e uma clara aplicação à situação concreta dos que estão reunidos na sinagoga, incluindo o próprio Jesus. O texto também nos deixa claro que Jesus tinha o costume de ir à sinagoga no sábado e fazer a leitura (v.16) e também de ensinar nas sinagogas com louvor dos que participavam.

Em João 5,59 Jesus pronunciou o discurso do pão da vida na sinagoga de Cafarnaum, provavelmente na festa da Páscoa (Jo 6,4),

Em Lucas 24,13-35, temos outro exemplo de homilia de Jesus com dois discípulos, na caminhada de Emaús. Trata-se de uma homilia no sentido mais genuíno da palavra: “conversa familiar”. Ao longo da caminhada que leva de Jerusalém a Emaús, Jesus vai interpretando o momento presente à luz dos textos da Sagrada Escritura. Trata-se uma verdadeira “liturgia da Palavra” que prepara o coração dos discípulos para a “liturgia Sacramental”. Na verdade, as palavras de Jesus atualizam os textos bíblicos (v.27) e preparam os corações para a celebração eucarística (v.29-30).

Em Atos dos Apóstolos 13,13-43 temos a homilia de Paulo na sinagoga de Antioquia da Pisídia.

Em Atos dos Apóstolos 20, 7-12 temos a homilia de Paulo em Trôade, num Domingo dia da Ressurreição, dia da Páscoa.

Entre os escritos pós-bíblicos, o primeiro testemunho que faz referência clara a homilia como parte da liturgia Eucarística é Justino, em sua Apologia n. 67, por volta do ano 153. “… Depois que o leitor acabou, quem preside exorta e incita pela palavra à imitação dessas coisas excelsas”.

Ainda são famosas as homilias dos Santos Padres (séc. II – VIII), que em grande parte foram transmitidas por escrito. São o comentário vivo da Bíblia por parte da Igreja dos primeiros séculos.

Os textos bíblicos nascem nas celebrações litúrgicas. Se tirarmos os textos bíblicos de uma celebração sobrará muito pouco. O Evangelho que lemos hoje nas celebrações nasceu na própria celebração.

Os Santos Padres da Igreja dizia que o livro é a “cama na qual dorme a Palavra”. A Palavra de Deus existe no texto e ressoa quando o texto é proclamado. Neste sentido é muito importante valorizar o Lecionário e o Evangeliário, pois eles aparecem como sinal da Palavra. Porém uma excessiva ritualidade com o livro parece valorizar mais a cama do que a pessoa que dorme. A palavra é viva e liga a história com o que a comunidade está vivendo.

A função do texto bíblico na celebração é:

• Alimentar a inteligência e o coração. A comunhão da palavra de Deus como de um pão vivo que nos fortalece e se dá pela escuta e escuta inteligente;

• Equilibrar a Palavra com sua interpretação. O Culto tem que ser mais orante e menos explicativo;

• Formar liturgicamente a assembléia para a escuta. Temos que formar os leitores e os ouvintes;

• A função abençoada da Palavra. Nas Igrejas antigas, os ministros abençoavam doentes com um texto da Sagrada Escritura;

• Relacionar com a vida. Celebrar é se colocar sob a Palavra, para que ela possa se atualizar em nós.

Até mais…

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