Paróquia Nossa Senhora das Dores - Nova Odessa, SP

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Sem categoria › 01/03/2018

Onde Deus mora? Você sabe?

No Evangelho da santa Missa deste terceiro domingo da Quaresma – Jo 2, 13-25 – São João relata a cena da ida de Jesus ao Templo, em Jerusalém, quando estava próxima a Páscoa, e de como Ele, vendo o comércio que ali se realizava, com vendedores de bois, ovelhas e pombas e cambistas, fez um chicote de cordas e expulsou todos do templo, com ovelhas e bois, e derrubou as mesas dos cambistas. E destaca o esconjuro de Jesus: “Tirai tudo isso daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!”. A seguir, narrando a discussão de Jesus com os judeus, João põe em evidência a novidade dos tempos novos depois da vinda do Messias, o que Jesus pronunciou como sendo a base bíblica e teológica desta novidade. “Destruí este templo, e em três dias o levantarei”, foi a resposta que Jesus deu aos judeus ao pedido do sinal de sua autoridade para agir assim. Naturalmente os judeus não entenderam a resposta, viram-na como um absurdo, pois eles lembraram que a construção do templo tinha levado 46 anos. Os discípulos só foram entender que Jesus se referia ao templo do seu corpo mais tarde depois de sua morte e ressurreição ao terceiro dia. Todos os exegetas afirmam que a ideia central do Evangelho de João, trabalhada por ele ao longo dos capítulos 1,19 a 4,54, visa demonstrar que os discípulos, inclusive Nicodemos e a Samaritana, tiveram as suas mais profundas aspirações de alma realizadas quando se encontraram com Jesus, o Messias, o revelador do Pai, e o aceitaram como o novo lugar de adoração do Pai “em espírito e em verdade” (Jo 4,22). Por isso, João, no início do seu Evangelho, diz que a glória de Deus, que antigamente se revelava somente no templo ou tabernáculo, em Jerusalém, agora a contemplamos em Jesus Cristo (cf. Jo 1,14).

Se Jesus é o lugar onde Deus mora, então Ele é o ponto de encontro com Deus. Não foi à toa que em outra oportunidade Ele assim se expressou: “Ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14,6). Lemos em Apocalipse 14,6 que Jesus é o Evangelho ou a Boa Nova eterna anunciada a toda terra”, e em Hebreus 13,8-9 que “Jesus Cristo é o mesmo, ontem e hoje; Ele o será para sempre! Portanto, não vos deixeis extraviar por doutrinas ecléticas e estranhas”.  O Papa Francisco, na Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium” (A Alegria do Evangelho), inicia a sua mensagem afirmando que a alegria do Evangelho brota do encontro com Jesus. O encontro com Jesus provoca libertação de tudo o que é ruim, pecado, tristeza, vazio interior, isolamento, e faz renascer uma alegria sem cessar (EG, 1). E o Papa faz um incisivo convite: “Todos os cristãos, em qualquer lugar e situação que se encontrem, estão convidados a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de deixar encontrar por Ele, de procurá-Lo dia a dia, sem cessar” (EG, 3). Igualmente o documento de Aparecida, do Episcopado Latino-Americano, explica que, segundo a doutrina do discipulado, os cristãos precisam reavivar o encontro com Jesus. Diz que o que marca o discipulado é o encontro vivo, persuasivo e decisivo com Jesus (DAp, 290). E faz uma importante declaração que é ao mesmo tempo um imperativo categórico de comportamento missionário para todo discípulo com espírito: Jesus precisa ser encontrado, seguido, amado, adorado, para ser anunciado e comunicado (cf. 14). Pois o verdadeiro discipulado leva à missão que consiste, basicamente, em compartilhar com os outros a experiência do encontro com Jesus (cf. 287). O discípulo fascinado por Jesus não tem como calar a sua voz.

Se Jesus é o novo lugar do encontro com Deus, por que vamos à Igreja? Ora, exatamente para nos encontrar com Deus, porque é a casa da oração, segundo disse Jesus que não deve ser convertida em casa de negócios.  Vamos encontrar com Jesus, que nos leva ao Pai e nos dá o Espírito Santo. Por isso, não é correto que pessoas ao entrar na Igreja não vão, em primeiro lugar, lá na Capela do Santíssimo Sacramento da presença real de Jesus na Eucaristia. Lembro-me do modelo exemplar de Francisco de Assis que, inclusive, deixou uma belíssima oração. Pois toda vez que entrava em alguma Igreja, primeiro, ele se prostrava diante de Jesus no Sacrário e se não houvesse, então, diante do crucificado, e assim rezava: “Eu vos adoro santíssimo Senhor Jesus Cristo, aqui e em todas as vossas Igrejas que estão no mundo inteiro, e vos bendigo porque por vossa santa cruz remistes o mundo”. E, depois, a alma de Francisco se levantava às alturas e louvava a Deus com o Cântico das criaturas, a Nossa Senhora com orações e afetos especiais, pois tinha um amor indizível à Mãe de Jesus, aos Anjos e Arcanjos aos quais tinha profunda devoção. Incendiado pelo fogo do amor de Deus, Francisco saía da Igreja e não cansava de proclamar a toda gente, dizendo: “O amor não é amado”. E conclamava a todos a amar e servir ao bom Deus e a toda humana criatura.

O documento de Aparecida aponta outros lugares onde é possível o encontro com Jesus Cristo. Destaco dentre eles, por exemplo, três modos de encontrá-Lo. Podemos encontrar Jesus Cristo na Sagrada Escritura. O documento evoca a figura ilustre do primeiro tradutor da Bíblia para o latim (A Vulgata), São Jerônimo, que no século quinto já dizia que “Ignorar a Bíblia é ignorar a Cristo”. Por isso, chamando a atenção que a Igreja sempre procurou educar o povo na leitura e meditação da Palavra de Deus, frisa que agora mais do nunca é necessário fazê-lo (cf. DAp 247-249). Também é lugar privilegiado para o encontro com Jesus a Sagrada Liturgia da Igreja, sobretudo pela vida de oração e pelos Sacramentos. Põe em evidência a vivência dos Sacramentos, mediante os quais celebramos o mistério pascal e encontramos o alimento que nutre a vida nova em Cristo (idem, 250-256). Outro modo especial é encontrar Jesus nos “pobres, aflitos e enfermos” (cf. Mt 25,37-40). Diz o documento: “O encontro com Jesus Cristo através dos pobres é uma dimensão constitutiva de nossa fé em Jesus Cristo… A mesma união a Jesus Cristo é a que nos faz amigos dos pobres e solidários com seu destino” (DAp 257).

Por Dom Caetano Ferrari – Diocese de Bauru

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