Vida, silêncio e oração
Numa sociedade marcada fortemente pelo barulho, que leva as pessoas a terem medo do silêncio, ou a terem atitudes de isolamento para poderem recuperar as energias, talvez tenhamos que redescobrir o valor do contato social em comunidade, mas também os benefícios do recolhimento na nossa vida pessoal, familiar e comunitária.
Temos muitas vezes medo do ficar em silêncio, de poder contemplar e partilhar os sentimentos sobre as pequenas coisas que acontecem ao nosso redor, ou até mesmo de admirar a vida da natureza que nos envolve. Mesmo quando nos colocamos diante do Senhor, parece fazer falta aquela oração confiante, que é sinal de uma resposta do coração que se abre a Deus face a face, quando são silenciados todos os rumores para escutar a voz suave do Senhor que ressoa no silêncio.
Neste silêncio, é possível discernir, à luz do Espírito, os caminhos de santidade que o Senhor nos propõe. Ele não é construído no vazio existencial, mas através da nossa história de vida. Por isso, a nossa oração deveria ser sempre rica de memória, percorrendo os passos da nossa existência, marcada pela presença de tantas pessoas e acontecimentos, mas também pelo amor e a misericórdia de Deus.
“A memória das obras de Deus está na base da experiência da aliança entre Deus e o seu povo. Se Deus quis entrar na história, a oração é tecida de recordações: não só da recordação da Palavra revelada, mas também da própria vida, da vida dos outros, do que o Senhor fez na sua Igreja,” e faz na sua e na minha vida.
Por isso, é bom ter um tempo para agradecer ao Senhor, para estar em silêncio. Meu irmão, minha irmã, busca cultivar a serenidade, busca a paz interior, “contempla a tua história quando rezas e, nela, encontrarás tanta misericórdia. Ao mesmo tempo, isso alimentará a tua consciência com a certeza de que o Senhor te conserva na sua memória e nunca te esquece”, guardando-te no seu coração de Pai.
Por Dom José Gislon – Bispo de Erexim, via CNBB